sábado, setembro 08, 2007

O outono que se pressente

O Verão que se espreguiça não esconde o Outono que se instalou na minha alma.

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

Vinícius de Moraes

quinta-feira, setembro 06, 2007

Dissertações...

Sem nos entregarmos por inteiro, nunca nos realizaremos enquanto Homens.
Ou não seremos nós: o outro não sou eu, se é apenas parte de mim;
Ou não seremos ninguém: se nunca nos entregarmos.

O tudo ou nada...

Porque é do português, pai de amplos mares,
Querer, poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita -
O todo, ou o seu nada.

Fernando Pessoa, em Mensagem

E depois de Quioto?

O protocolo de Quioto prepara-se para mais um aniversário em Dezembro próximo. A sua proposta original – a redução, em 5.2 %, da emissão de gases responsáveis pelo aumento do efeito de estufa, tendo como referência o ano de 1990 – tinha como objectivo ser cumprida até 2012, mas ainda muito há para fazer.

São dez as primaveras que o protocolo irá cumprir, mas que representam uma década devastadora do ponto de vista metereológico: a instabilidade atmosférica tem vindo a acentuar-se como podemos ver com o aumento do poder de destruição do fenómeno El Nino, pelo aumento do número de tufões, pelas ondas de calor que em vários anos consecutivos assolaram Portugal e, mais recentemente, pela chuvas diluvianas que atingiram o Reino Unido no passado mês de Julho ou a onda de calor que atingiu o sudeste europeu e preparou terreno para esta onda infernal de incêndios na Grécia. O número de cépticos nas mudanças climáticas, que inicialmente criticavam abertamente o protocolo de Quioto, foi diminuindo drasticamente face à realidade tangível que temos presenciado.

O percurso que foi feito pelos países que ratificaram o protocolo de Quioto é desanimador: grande parte dos principais países desenvolvidos já toma como certo o não cumprimento das metas definidas e procura, agora, no mercado de carbono, a compra de licenças de emissão excessiva a outros países.

A situação vivida por Portugal é extremamente alarmante: os sucessivos governos têm sido incapazes de implementar medidas eficazes para diminuir as emissões existentes – pelo contrário, o aumento é visível. Assim, Portugal terá de ir às compras das licenças de emissão excessiva a outros países, perfilando-se a Rússia como o parceiro preferencial. Aliás, só assim se entende a atitude subserviente que José Sócrates protagonizou na recente visita que fez àquele país, merecendo o achincalhamento dos restantes parceiros europeus. O ditado já é velho – “Se vais ao mar, avia-te em terra” – mas José Sócrates sabe bem que o governo português parte para esta jornada sem se ter preparado previamente.

O custo estimado das licenças que Portugal terá de comprar será de 2 mil milhões de euros. Para se poder perceber o que significa este valor, tomando em linha de conta o custo orçamentado do futuro Hospital Central de Faro (200 milhões de euros), estamos a falar de um montante que daria para a construção de 10 hospitais centrais. Seria como que um europeu da saúde, mas, desta feita, com um benefício social claro e duradouro. É este o custo que todos temos de pagar pela incúria dos nossos governantes que não souberam implementar, no devido tempo, um plano capaz de responder às exigências ambientais urgentes.

Contudo, para além das dificuldades de cumprimento de vários países, uma outra nuvem negra paira sobre o protocolo de Quioto: os Estados Unidos – o principal emissor mundial de CO2 – continuam a recusar a ratificação do protocolo, alegando que esse anuir implicaria uma interferência negativa na economia norte-americana. Sendo que as emissões de carbono não se confinam às fronteiras legais de cada país, é bom de ver que esta acção egocêntrica dos Estados Unidos tem um efeito nefasto para todo o planeta. Assim, para além dos resultados negativos ao nível das alterações climáticas globais é, também, claro, que as empresas dos Estados Unidos, pelo facto de não se sujeitarem às mesmas obrigações ambientais das congéneres europeias, partilham de uma posição vantajosa para a produção de produtos mais baratos. Muito resumidamente, está a Europa a pagar parte da factura ambiental dos Estados Unidos e, ainda, hipotecando parte da sua indústria com esta concorrência desleal.

O protocolo de Quioto encontra-se, actualmente, na sua fase final de implementação, apesar da não ratificação pelos EUA e pela Austrália. Desta forma, perfilando-se as alterações climáticas um dos maiores flagelos que a humanidade terá de enfrentar, já se encontra em discussão, no seio da ONU, as acções que deverão ser tomadas no pós-Quioto e que se pretendem sejam definidas já em Dezembro, em Bali, na Indonésia. Este será o debate que definirá o futuro de todos nós, mas que não pode ser feito levemente: as necessidades de diminuição da emissão de gases com efeitos de estufa passam por uma reestruturação profunda da cadeia energética das sociedades actuais. É, também, um debate a que ninguém pode faltar pois o flagelo é global, e, se para o protocolo de Quioto, foi permitido aos EUA que faltassem à sua ratificação, agora a comunidade internacional deve ser firme na sua posição e não aceitar que a balança continue desnivelada. Todos somos poucos no combate às alterações climáticas por isso nenhum pode faltar.

Existe uma velha máxima que diz que “nós não herdámos a terra de nossos pais, mas pedimo-la emprestada aos nossos netos”. Convém que o lembremos constantemente e que não permitamos que ninguém o esqueça.

Artigo publicado no Diário de Aveiro de 31 de Agosto de 2007

terça-feira, setembro 04, 2007

No surprises

Um dos melhores video clips de que tenho memória, para todo um álbum fantástico.

Good Bye Lenin

Com imagem...

segunda-feira, setembro 03, 2007

Águas de Março

Provavelmente a melhor versão de sempre desta música...

Papéis políticos

O desencanto dos portugueses na política é algo que não é de novo. Contudo, parece ter vindo a agudizar-se. Sendo que existem vários factores que contribuem para esta situação, não posso deixar de apontar o dedo para muitas das práticas políticas existentes na nossa praça.

A campanha eleitoral mais parece um concurso de boas intenções em que, mais importante do que as propostas concretas que se tenham a apresentar, é a criação de uma série de frases feitas que tentam não comprometer os candidatos com nenhuma acção em particular. Essas frases quanto mais ambíguas melhor, dado que, assim, se agrada a gregos e troianos, tomando todos por amigos. É a tentativa de passar uma imagem de acção, mas, na prática, com conteúdo o mais neutro possível para não gerar anticorpos.

É claro que é inevitável a apresentação de algumas propostas concretas, mas, sempre, como uma espécie de serviços mínimos, só para não perder por falta de comparência. O mais importante é anunciar obras com impacto, grandes acontecimentos, mesmo que não se tenha a mínima intenção de cumprir com as promessas.

Um exemplo claro do que digo é interpretado pelo nosso Primeiro-Ministro. Das promessas eleitorais do candidato José Sócrates, há muito que o Primeiro-Ministro José Sócrates se esqueceu, dando um ar de naturalidade a todas as quebras de promessas, discursos de retórica, jogos de bastidores…

O poder local com que somos brindados sofre, infelizmente, dos mesmos males. Foi criada a personagem do Presidente de Câmara que é subserviente às intenções do governo. Vou dar o nome de “Presidente Bom Companheiro” a esta personagem. Se é do mesmo partido do Governo, tenta dar algum ar de desagrado perante medidas centrais que não favoreçam o seu concelho. Mas, qual peça de teatro, no segundo acto, após uma reunião – supostamente tensa – com o poder central, tudo muda e as medidas são anunciadas como uma nova vida para o concelho. Se o Presidente de Câmara é de partido diferente do que se encontra representado no governo, no primeiro acto, a cena do desagrado é interpretada com mais intensidade. Existe, também, no segundo acto uma alteração: o resultado da reunião aparece como sendo um mal menor, não existindo outra alternativa que não aceitar a última versão proposta. Esta personagem, actualmente, encontra-se muito em voga, sendo interpretada por vários eleitos locais com destaque no nosso distrito.

Um exemplo prático da aplicação da personagem que acima descrevi teve lugar na última visita que Correia de Campos, esse zeloso ministro da economia da saúde, fez ao nosso distrito. Correia de Campos veio a Aveiro, mas não trouxe coisa boa!... Na mala carregava protocolos para o fecho nocturno das urgências de Ovar e Estarreja e o protocolo para a desqualificação da urgência de Oliveira de Azeméis. No fundo, a realização prática da estratégia que este Governo tem para o Serviço Nacional de Saúde, que nos coloca doentes a todos! E foi ver os Presidentes de Câmara de Estarreja e Oliveira de Azeméis a desempenharem o papel do “Presidente Bom Companheiro”, versão descontente. Assinaram o que Correia de Campos lhes apresentou, mesmo sabendo que os seus munícipes o rejeitaram publicamente, e anunciaram esta capitulação como “Poderia ser pior se não assinássemos o acordo”. Claro que, para a fotografia, tiveram de enviar alguns recados para “o poder central”, mas nada que fosse para levar a sério, tal como o Ministro sabe bem. A actuação acabou com a habitual despedida com abraços e beijinhos…

O Presidente da Câmara de Ovar, por outro lado, interpretou o papel do “Presidente Bom Companheiro”, versão contente. Tudo será melhor para Ovar, uma nova vida, no futuro ninguém se lembrará que foram fechadas as urgências nocturnas… Foi com um final em apoteose que a actuação terminou, com o Ministro a ser efusivamente saudado por todo o executivo.

Uma primeira versão desta personagem foi interpretada por José Mota, Presidente da Câmara de Municipal de Espinho, dando um cunho muito pessoal, com a sua versão de “Presidente Bom Companheiro – desaparecido”. José Mota apareceu muito reivindicativo e, após a tal reunião da praxe, desapareceu e nunca mais se ouviu. Deve ter-se retirado para o Brasil para meditação…

Compreendo o desencanto que existe em relação à política, tendo em conta os tristes exemplos com que somos brindados por estes políticos do sistema… São várias interpretações de uma mesma personagem que tornam medíocre o panorama político. É o esquecer constante que foram eleitos para defender os interesses dos seus munícipes e não uns interesses pessoais, obscuros ou partidários.

Felizmente, nem tudo é cinzento… Existe o Bloco de Esquerda com uma paleta de cores de esperança. A definição clara de quais os adversários em cada momento político é uma das imagens de marca do BE. Uma outra é a defesa obstinada dos interesses de todos nós, colocando-os acima do interesses de apenas alguns. É o chamar pelos nomes aqueles que tudo levam e nada produzem, é o enfrentar, cara a cara, os interesses instalados que nos agrilhoam ao passado.

É com essa certeza que é diferente, para melhor, que reconheço no Bloco de Esquerda o motor dessa transformação que urge na sociedade.

Artigo publicado no Diário de Aveiro de 17 de Agosto de 2007

Idiotices

Ela: O médico disse para irmos à consulta quando os medicamentos estivessem a acabar. Dado que este é o último temos de marcar consulta.

Ele: Então tens de ligar para lá.

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Ela: Estou, gostava de marcar uma consulta, sff.

...: Não é possível, o Sr. Dr. vai amanhã de férias amanhã.

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Ela: Só dá para daqui a três semanas, o médico não está cá.

Ele: Então é melhor comprar mais medicamentos.

sábado, setembro 01, 2007

O Advogado do Diabo

"Vaidade, o meu pecado preferido"



"A versão do Diabo sobre Deus"

O grande Chico em dose dupla

Teresinha



Meu caro Amigo

Platão Revisitado

A identificação inicial da política encerrava um carácter virtuoso da mesma, com a sua contribuição em busca da perfeição humana. As primeiras ideias veiculadas neste sentido remontam à Grécia antiga, encontrando em Platão principal defesa desse estatuto maior para a actividade política. Platão defendia que a estrutura da vida social em Atenas proporcionava a elevação do Homem pela sua bondade, duvidando que o mundo pudesse “produzir um homem que fosse tão independente e dotado de uma versatilidade tão grande como o ateniense”.

Contudo, tal como Platão constatou, a corrupção política era, também, uma realidade, o que lhe motivou uma crítica feroz. Uma das mais famosas obras de Platão é o diálogo com Górgias, figura que representava uma das classes emergentes da altura, os sofistas. Estes orgulhavam-se de transmitir opiniões de natureza geral, não especializada, àqueles que desejavam deixar a sua marca na vida pública da Polis. Para Górgias é impossível saber o que existe verdadeiramente e o que não existe: é tudo uma questão de retórica. Os sofistas e os demagogos seriam, para Platão, as classes criticáveis da política e que lhe retiravam a sublimação de uma arte maior.

Um dos principais assuntos da presente semana foi a visita do Ministro Correia de Campos a Aveiro. Depois da assinatura de protocolos para vários encerramentos, Correia de Campos decidiu-se a dissertar sobre os problemas do Hospital Infante D. Pedro em Aveiro. Foi interessante perceber que motivos o Ministro encontrou para um desempenho menos positivo do referido Hospital: é um problema de “auto-estima” e dos “predadores” privados que se alimentam da caça já moribunda. Aí está um belo discurso! De uma só penada se dá uma imagem de dinamismo e uma mensagem positiva de justiça social! Nada mais enganador…

A auto-estima, como a ministerial opinião evoca, anda pelas ruas da amargura. Este não é, infelizmente, um cenário vivido apenas pelos cagaréus, mas por todos aqueles que sentem na pele o desmantelar de um Sistema Nacional de Saúde. A política devastadora do governo Sócrates tem deixado um rasto de encerramentos por onde passa. Ainda esta semana, no nosso distrito, deixou marcas em Ovar, Estarreja e Oliveira de Azeméis. É este o desânimo que o Ministro constata, mas que finge não conhecer as origens. É com este discurso que tenta lavar as mãos, mas não o deixaremos.

São as lágrimas de crocodilo que o Ministro chora em nome de uma pretensa justiça social que os portugueses abominam. Não esquecemos quem, em nome de um certo comedimento, criou uma taxa para moderação dos internamentos e cirurgias. Sabemos bem quem rejeitou a proposta do Bloco de Esquerda para a dispensa de medicamentos nas farmácias hospitalares a doentes de ambulatório, consultas externas e urgências. Não ignoramos os custos crescentes dos Hospitais EPE nos negócios com os privados. Sabemos bem onde se compram os genéricos mais caros da Europa…

É por tudo isto que a pretensa justiça social defendida pelo Ministro Correia de Campos se esgota na retórica populista e não encontra eco nas práticas do governo Sócrates. Pelo contrário, o acesso universal aos cuidados de Saúde previsto na constituição parece uma miragem cada vez mais distante.

A solução para o Hospital Infante D. Pedro passa pela sua modernização. É uma infra-estrutura criada há mais de 30 anos que já procura sucessor. Houvesse um europeu de Hospitais e esta seria uma obra prontamente realizada… Mas é preciso mais, para Aveiro e para o País. O acesso a cuidados universais de Saúde com qualidade deveria tornar-se um desígnio nacional, ocupando o lugar desta demagogia propagandística que, selvaticamente, delapida o SNS.

Imagino o que diria Platão destes políticos que nos governam… Tão longe as ideias de virtude e elevação humana…


Artigo Publicado no Diário de Aveiro de 27 de Julho de 2007