segunda-feira, novembro 05, 2007

Que futuro para a Educação?

A educação em Portugal é feita de contrastes: a escola do futuro anunciada pelo Primeiro-Ministro José Sócrates, com os sorrisos radiantes das crianças/actores pagos para o efeito e a satisfação visível da pretensa professora, vive bem longe da realidade presenciada nas nossas escolas.

Curiosamente, mesmo apesar de todos os discursos preenchidos por retórica, a verdade é que os dados mostram, cruelmente, que o insucesso escolar nos 2º e 3º ciclos se mantém estável desde 1996 e, no ensino secundário, a taxa de reprovação ronda os 50%.

Num sistema educativo marcado pela ideologia do sucesso, em que as escolas são organizadas por rankings de dita “excelência”, a escola tornou-se o espaço da “gestão por resultados”, assassinando a máxima criadora de que “a escola não era a tradução do mundo exterior, mas servia para preparar pessoas capazes de o enfrentar”.

Esta meritocracia mascara o insucesso, cujo roteiro é bastante conhecido: são os concelhos do interior, os concelhos mais pobres das áreas metropolitanas, os nichos guetizados dentro das cidades e os alunos oriundos das classes sociais mais desfavorecidas. São as escolas em que as crianças têm tudo, até dinheiro para os centros de explicações, que surgem na dianteira da dita lista. Nada mais seria de esperar, dirá o leitor, mas nada mais falso nos tentam passar do que a ideia de que tudo pode ser avaliado por igual e de que as causas das diferenças são factores extra ao modelo educativo.

Com efeito, a escola enquanto agente integrador e atenuador das diferenças sociais é uma miragem que se vai esvanecendo à medida que o caminho percorrido na definição da política educativa se afasta destes objectivos.

O investimento público na educação em Portugal continua a divergir negativamente da média do investimento dos países industrializados. Apesar de toda a oratória a que assistimos com o anúncio da “sociedade do conhecimento”, bem como o “modelo de economia assente no conhecimento”, o sistema educativa português caminha pelas ruas da amargura e o desemprego alastra mesmo entre profissões com elevado nível de qualificação.

As “Novas Oportunidades” surgiram para justificar o encerramento massivo do ensino nocturno; a redução do número de alunos serve para legitimar o encerramento de escolas; a bolsa de mendicidade criada pelos Professores desempregados serve para justificar a precariedade em que se tornaram as actividades de enriquecimento curricular; a desvalorização social do trabalho dos docentes acontece na exacta medida em que Maria de Lurdes Rodrigues utiliza o seu discurso preconceituoso para levar avante as suas políticas neoliberais.

Esta é a realidade de um sistema educativo que segrega o conhecimento em “matéria vendável” e “matéria acessória”, puramente regido pelas regras do mercado, não permitindo uma preparação completa dos jovens enquanto os Homens e Mulheres de amanhã.

A escola como espaço para formação de identidades, deveria ser um garante dos valores que consideramos fundamentais para a nossa sociedade. A Liberdade e a Democracia deveriam ser bandeiras sempre hasteadas nos seus mastros. Pelo contrário, assistimos a uma política de medo entre os professores e vemos os alunos e funcionários cada vez mais alheados das decisões que os afectam directamente.

É por esta análise que gritamos bem alto que “o rei vai nú”, pois da política educativa do actual governo pouco ou nada se retira.

Tendo por base estes problemas, com base na necessidade de um novo modelo educativo, numa nova educação contra a desigualdade, o Bloco de Esquerda prepara-se para lançar um amplo debate em torno de uma resposta emancipatória para a crise da educação. Este movimento, pela escola pública, é aberto a todos que sintam como seus os problemas de uma sociedade que mercantiliza a educação, transformando o ensino num novo factor de discriminação social.

Desta forma, como que para um pontapé de partida para uma análise profunda à crise educativa e para uma resposta social ao modelo capitalista, o Bloco de Esquerda realizará no próximo fim-de-semana um Fórum, que se espera participado e rico no pensamento produzido.

Artigo publicado no Diário de Aveiro de 26 de Outubro de 2007

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